A médica infectologista Luana Araújo deu seu depoimento à CPI da Covid nesta quarta (2), durante aproximadamente sete horas, e fez críticas duríssimas ao uso da cloroquina e ao tratamento precoce, ambos instrumentos defendidos pelo governo como forma de combate à covid-19. Ela afirmou, por exemplo, que a utilização da cloroquina é responsável pelo aumento de 77% no risco de óbitos em pacientes com a doença. Para a médica infectologista, defender o tratamento com cloroquina é algo que gera uma falsa sensação de segurança na população, contribuindo para o aumento de casos. "Eu considero natural que lá no começo da pandemia a gente tenha insistido em algo que não tem realmente valor", disse, completando que a cloroquia já foi descartada por "estudos científicos sólidos" de instituições renomadas do mundo inteiro.
A respeito do tratamento precoce, a médica infectologista afirmou que esta discussão "é delirante, esdrúxula, anacrônica e contraproducente". Ela continuou: "Ainda estamos discutindo uma coisa sem cabimento. É como se estivéssemos discutindo de qual borda da Terra plana vamos pular", afirmou em crítica ao negacionismo que refuta informações produzidas pela ciência.Luana revelou à CPI que não sabe por que teve barrada sua nomeação como secretária do ministério da Saúde. Ela ficou no cargo por apenas dez dias e foi dispensada de maneira repentina. Luana também falou que vê uma falta de coordenação e compreensão no enfrentamento à pandemia. Questionada se era contra a autonomia dada aos médicos pelo Ministério da Saúde, permitindo que eles receitem medicamentos para o tratamento precoce da doença causada pelo novo coronavírus, Luana afirmou que os profissionais de saúde podem sugerir os remédios, mas também precisam assumir a responsabilidade por eventuais problemas. Para Araújo, "autonomia médica não é licença para experimentação". "O profissional tem direito de indicar da maneira que ele considerar correta, mas ele precisa ser responsabilizado por aquilo que ele faz."
Ela defende que médicos que
utilizam remédios sem comprovação científica contra a covid, como a cloroquina,
não podem usar a lógica de "se eu prescrevo e a pessoa se salva, eu digo
que sou o máximo, mas se ela morre, foi Deus que quis".
Ela opinou que as falsas teses
encontram terreno fértil na população em situação de desespero e que precisa
sair para trabalhar para sobreviver. Ela pregou o diagnóstico precoce como uma
estratégia de impacto de saúde e também econômico. A ideia defendida é a
testagem em massa e isolamento de casos no início da infecção, reduzindo a
disseminação da pandemia.
A médica disse ainda que, se o
"kit covid" fosse eficiente, o país não teria os atuais
números. Até terça-feira (1), 467.706 tinham morrido da doença. Luana
Araújo discordou com veemência da afirmação de que a classe científica está
dividida. "Ciência não tem lado, ou é bem feita ou é malfeita. A bem feita
é aquela que não busca o resultado que você quer. Ela faz a pergunta e espera
para entender o que aconteceu. É preciso ter uma criticidade bastante
desenvolvida para que a gente consiga dar aos nossos colegas as ferramentas
necessárias para esse tipo de análise."
GOVERNO
Araújo elogiou o ministro da
Saúde, Marcelo Queiroga. Sem citar nomes, porém, afirmou ver falta de
coordenação e compreensão no enfrentamento à pandemia.
A médica disse ter sentido impacto
emocional quando a CPI exibiu vídeo com frases polêmicas do presidente Jair
Bolsonaro durante a pandemia, como quando usou termos como
"gripezinha", "não sou coveiro" e que o Brasil não poderia
ser um "país de maricas".
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