Misturar bebidas alcoólicas com energéticas aumenta o desejo por álcool. De acordo com um estudo publicado recentemente no periódico científico Alcoholism: Clinical and Experimental Research, o consumo simultâneo de bebidas com cafeína e álcool pode levar a um aumento do que os especialistas chamam de beber em binge. A prática, comum principalmente entre jovens, consiste em ingerir pelo menos cinco doses de bebida alcoólica, no caso dos homens, ou quatro doses, no caso das mulheres, em um período de duas horas. Esse comportamento é particularmente nocivo pois, além de aumentar a probabilidade de intoxicação, também está associado a um aumento do comportamento de risco, como dirigir embrigado, ter relação sexual sem preservativo e utilizar outras drogas.
No
novo estudo, pesquisadores da Universidade Northern Kentucky, nos Estados
Unidos, realizaram um experimento com 26 adultos (13 homens e 13 mulheres), da
mesma idade e que tinham o hábito de beber socialmente. Ao longo de seis
sessões, os participantes receberam uma das seis misturas seguintes: vodca com
refrigerante descafeinado, vodca e uma bebida energética média, vodca e uma
bebida energética grande, um refrigerante descafeinado, uma bebida energética
média ou uma bebida energética grande.
Ao final de cada
sessão os participantes precisavam classificar o seu desejo por álcool e
realizavam um teste do bafômetro que media a concentração de álcool no
organismo. Os resultados mostraram que ingerir a bebida alcoólica pura já
aumenta o desejo por mais bebida. Quando ela é misturada a um energético,
contudo, essa vontade fica ainda maior. Já a mistura de vodca com refrigerante
descafeinado não obteve esse efeito. De
acordo com os autores, esse estudo fornece evidência de que a mistura de vodca
(ou qualquer outra bebida alcoólica) com energético leva a um maior desejo de
beber álcool, em comparação com a mesma quantidade de álcool consumida sozinha.
Os resultados também são consistentes com estudos em animais que mostraram que
a cafeína incrementa as propriedades de recompensa do álcool.
Efeitos
no organismo
Pesquisas anteriores
já haviam advertido que a cafeína mascara os efeitos intoxicantes do álcool, o
que pode levar a comportamentos mais arriscados, como o beber em binge. Isso
ocorre principalmente porque as pessoas não percebem o próprio nível de
embriaguez. Inicialmente, o
álcool age no sistema dopaminérgico do cérebro, causando euforia e desinibição.
Com a ingestão de mais doses, a bebida passa a comprometer o sistema
gabaérgico, responsável por funções vitais do corpo: controle da temperatura,
respiração e batimentos cardíacos.
No início da
intoxicação, os sintomas são tontura, dificuldade de ficar acordado, fala
enrolada e confusão mental, que começam a se manifestar em média 20 minutos
após a ingestão de álcool. Depois, ocorrem os sintomas mais graves: pulso fraco
e rápido, pele fria e pálida, cheiro forte de álcool saindo da pele, respiração
irregular, vômito, desmaio e coma. Beber em binge pode retardar o aparecimento
dos primeiros sinais de embriaguez. Assim, sem a pessoa se dar conta, aparecem
os sintomas mais graves e ela precisa ser encaminhada para o hospital com
urgência.
Segundo Zila van der
Meer Sanchez, professora do Departamento de Medicina Preventiva da Unifesp, a
mistura de alguma bebida alcoólica, em geral vodca, com energético, aumenta a
chance da necessidade de atendimento em urgências hospitalares por efeitos
agudos intoxicação alcoólica.
Mensagem contraditória
“A cafeína e a
taurina, estimulantes presentes nos energéticos, disfarçam os efeitos do
álcool. Ou seja, eles ocultam a sensação depressiva do álcool. Esse efeito
aumenta o risco de intoxicação e inclusive de morte por excesso de álcool, já
que a pessoa não tem noção do quanto já bebeu.”, explica Zila van der Meer
Sanchez, professora do Departamento de Medicina Preventiva da Unifesp.
Ainda não se sabe de que forma a cafeína aumenta
a fissura pelo álcool, mas a especialista, que também é coordenadora do projeto
Balada com Ciência da Unifesp e pesquisadora do Centro Brasileiro de Informações
sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), acredita que pode ser um mecanismo
comportamental. “O álcool, inicialmente, deixa a pessoa mais descontraída, e o
energético mais alerta. Como o energético mascara o efeito depressivo do
álcool, a pessoa só sente a parte positiva. Com isso, a sensação de bem-estar
estimula o consumo excessivo”, explica. FONTE: VEJA
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