Um
padre preso no interior de Goiás por suposto abuso sexual e compartilhamento de
pornografia infantil confessou, em depoimento ao Ministério Público (MP), a
prática em pelo menos cinco casos e atribuiu os atos a um “dom” para
“santificar” partes do corpo feminino como rosto, seios, nádegas e vagina. De
acordo com a declaração do acusado, que atuava em Caiapônia (Goiás), a 335
quilômetros de Goiânia, o “dom” incluía a possibilidade de reconstituição da
virgindade a partir do toque na vagina das vítimas. O religioso Iran
Rodrigo Souza de Oliveira, de 45 anos, foi preso no último dia 16, por
determinação da Justiça, a pedido do MP de Goiás. Policiais também cumpriram
mandado de busca e apreensão na casa do suspeito na paróquia e recolheram
computador, arquivos eletrônicos e celular.
Na sexta-feira (18), o padre
prestou depoimento ao promotor Danni Sales Silva, responsável pelas
investigações, por mais de cinco horas.
O promotor afirmou
que o número de vítimas é “inquantificável”. “Agora tem uma fila de pessoas
para dar depoimento. O advogado dele disse que vai levar de 20 a 30 casos de
‘milagres’. Na paróquia, apreendemos vídeo pornográfico, o que mostrava que ele
dissimulava a situação de sacerdote, de clérigo, para abusar sexualmente das
vítimas”, disse.
Primeiro, no
depoimento, o padre reconheceu ter trocado mensagens com vítimas via Whatsapp.
“Antes de tudo, o depoente gostaria de expor que tem um ‘dom'”, cita a
transcrição do depoimento. “Em oração, teve uma inspiração. Em unção percebeu
que rosto, seio, nádegas e vagina, tudo faz parte de um mesmo corpo e que é
possível a santificação destas áreas específicas do corpo tanto pela oração,
quanto pelo toque”, continua.
O toque com as mãos
deve ocorrer “dependendo da gravidade física ou espiritual da dor que assola a
pessoa”, segundo Iran. Há três anos, conforme o depoimento, o padre identificou
que poderia exercer seu “dom particular” por meio do Whatsapp. “Recebia
diversos pedidos de intervenção de outras cidades, e decidiu intervir pelo
Whatsapp. Quando o pecado dizia respeito a uma relação extraconjugal ou pecado
de carne o depoente, por vezes, pedia para ver partes do corpo desnudas,
inclusive a vagina aberta porque, assim, poderia dar a benção e a santificação
através de uma oração”, registra o termo de declaração ao MP.
Iran Rodrigo Souza de
Oliveira não soube dizer em quantas mulheres e adolescentes ele tocou a vagina:
“Já interveio por muita gente e não sabe dizer o número.” Essas pessoas tinham
“problema de carne”, conforme o religioso, e uma das vítimas precisou ser
tocada porque “isso decorre da eucaristia”. “A eucaristia é um mistério pois o
pão e o vinho, com a imposição das mãos e a oração, se transformam em corpo e
sangue de Cristo. Que por isto o depoente crê que as mãos têm o poder de
transmitir a graça pela unção.”
Uma das vítimas havia
“pecado” por ter estado com um homem numa festa. Ele buscou o padre para
confessar, na paróquia de Caiapônia, sempre conforme o relato dele ao MP. “O
depoente perguntou se ela gostaria de receber a benção e santificação e, assim,
fez o sinal da cruz tocando os seus olhos, cabeça, coração, seios, vagina. Para
esse processo de santificação foi necessário que ficasse pelada”, cita o
depoimento. Ele pedia fotos da vítima nua, com o consentimento da mãe, segundo
o padre.
No caso de outra
vítima, Iran estabeleceu a necessidade de três encontros para se restabelecer a
virgindade, na própria paróquia da igreja na cidade, conforme o depoimento. “O
depoente tocava na vagina pela parte externa fazendo o sinal da cruz.” Ele
negou ter introduzido o pênis na vítima.
O MP suspeita da
atuação de um grupo de oração no abuso sexual a vítimas, e questionou Iran
sobre a suposta atuação do grupo. “Este grupo reconhece o dom da santificação
pelo toque”, disse.
No caso de
pornografia infantil, o padre reconheceu ter recebido fotos de uma criança de
11 anos nua, “enviadas pela própria mãe da criança”. A menina estava com “fluxo
menstrual muito forte e desregulado”, e partiu do padre o pedido das fotos,
conforme o depoimento.
A suspeita do MP é
que pelo menos uma vítima tinha 14 anos de idade quando houve o suposto abuso.
Os crimes investigados são violência sexual mediante fraude, com pena de dois a
seis anos de prisão, e adquirir pornografia infantil, com pena de prisão de um
a quatro anos.
Leonardo Couto
Vilela, advogado do padre, nega que houve abuso sexual. Ele atribui a “fé” o
que ocorria na paróquia. “Os toques não tinham qualquer intenção, não havia
qualquer lascívia. A mão ficava espalmada. O padre era a ponte entre a pessoa e
Deus, a motivação era religiosa. Ele era um intermediador. Havia inclusive
consentimento dos pais”, defende. FONTE: COM
INFORMAÇÕES DO JORNAL EXTRA
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