Tiago Rebolo
Técnicos da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e
Recursos Hídricos (Semarh) e da Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do
Norte (Caern) trabalham no desenvolvimento de um projeto para implementar em
cidades do interior do estado usinas de dessalinização de águas para auxiliar
no abastecimento urbano. Segundo o engenheiro mecânico e coordenador do projeto
na Semarh, Franklin de Azevedo, na fase inicial que está sendo estudada
atualmente, as águas resultantes do processo de dessalinização devem abastecer
até 30% de Macau, município do Polo Costa Branca escolhido para abrigar o
projeto piloto. Franklin explica que a grande vantagem da
dessalinização é que a porção da cidade abastecida com essas águas terá, a
partir do início das atividades, segurança hídrica por tempo indeterminado. “São águas provenientes do mar, que é uma fonte inesgotável. Isso significa
que, se todas as outras fontes de abastecimento falharem, a dessalinização
ficará contínua. Então, é garantia de segurança hídrica para a população
abastecida”, comenta o técnico.

Atualmente, o município de Macau é abastecido com
águas do rio Piranhas-Açu, do qual a captação acontece em Pendências. Com a
seca que já dura cinco anos, entretanto, a retirada de água tem sido cada vez
mais difícil, o que motivou os técnicos a estudarem alternativas. Foi aí que
surgiu a ideia de instalar a usina de dessalinização.
O coordenador do projeto, Franklin de Azevedo, pontua
que o preço do abastecimento com águas dessalinizadas é superior ao do
abastecimento por métodos tradicionais. Enquanto o procedimento comum acarreta
em custos de, aproximadamente, R$ 3 por metro cúbico de água; na
dessalinização, o preço pode chegar a R$ 5 pela mesma quantidade do produto.
Pelo projeto da Semarh, porém, além da garantia de
segurança hídrica – imprescindível em períodos de seca, outra variável torna a
captação mais viável: o investimento privado. Isso porque, segundo Franklin, a
distribuição da água se dará por meio do sistema de licitação de demanda.
O técnico esclarece que, nesta modalidade, a
responsabilidade pela implantação da usina ficará a cargo da empresa que
oferece o menor custo por metro cúbico de água. Dessa forma, a Caern (ou o
próprio município onde a usina estiver instalada) compra a água e repassa para
o consumidor. “Iremos estabelecer critérios técnicos que a empresa vencedora
deverá atender. Mas ganhará aquela que fornecer a água pelo menor valor”,
frisa.
Franklin ressalta ainda que as tecnologias em torno do
processo de dessalinização têm avançado nos últimos anos e que a água que sai
do processo é “extremamente boa”. “É uma água que sai pronta para o consumo
humano. E devido ao avanço da tecnologia, os custos estão diminuindo. Antes, o
maior gasto era com energia, mas isso está sendo reduzido com melhor
aproveitamento. O valor por metro cúbico tem caído”, aponta.
A Semarh espera que o processo que envolve licitação e
instalação da usina de dessalinização seja o mais breve possível e que a
população possa consumir as águas do novo sistema já a partir de fevereiro de
2018. “Estamos na fase de estudo conceitual. O Governo do Estado se interessa
pela modalidade. E será importante pois o Estado só terá gastos com projetos e
estudos de viabilidade, pois todo o restante do investimento será privado”,
pontua.
Com relação a possíveis concorrentes no processo,
Franklin afirma que há empresas potiguares capacitadas para instalar a usina e
operar o sistema. No entanto, boa parte da tecnologia utilizada no processo
ainda é importada. “Inclusive, já no projeto, estamos contando com a
participação de uma empresa espanhola que tem braço de atividades no Rio Grande
do Norte, com o fornecimento de planilhas de custos. Em partes, é uma empresa potiguar”,
registra.
INCREMENTO NA CONTA E
EXPANSÃO
A instalação da usina de dessalinização ainda está em
fase de estudos, mas a Semarh calcula que não haverá grandes impactos no valor
pago pelo consumidor na conta de água. De acordo com o técnico Franklin de
Azevedo, a estimativa é que haja um incremento de cerca de 10% inicialmente.
Aumento que representará, reforça o coordenador do projeto, na garantia de
abastecimento por tempo indeterminado, independentemente da estiagem.
Sobre a possibilidade de alcançar outras regiões do
estado, o técnico salienta que o projeto em Macau será a primeira experiência.
Só depois disso é que será estudada a possibilidade de expansão. “Estamos
iniciando o processo. Vamos observar as experiências. Mas um outro município
que pode receber é Galinhos”, coloca.
Um fator que pesa na decisão é o local de despejo dos
resíduos da dessalinização. O técnico explica que duas águas saem do processo.
Uma que passa por um pré-tratamento, com retirada de metais e materiais
orgânicos, e outra com a retirada dos sais – esta recomendada para o consumo
humano.
A primeira água, por sua vez, pode ser
encaminhada para empresas salineiras, que já teriam boa parte do processo de
extração do sal antecipada – daí a escolha por Macau para o projeto piloto; o
município é polo salineiro no estado. E a outra opção, por fim, é despejar em
áreas utilizadas para carcinicultura. fonte: agorarn