Em
conversas gravadas pelo ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, que
assinou um acordo de delação premiada com a PGR (Procuradoria-Geral da
República), o ex-presidente da República José Sarney (PMDB-AP) afirmou que uma
delação premiada que a empreiteira Odebrecht estaria prestes a fazer na
Operação Lava Jato "é uma metralhadora de [calibre] ponto 100".
Acompanhe abaixo a íntegra das transcrições:
Primeira
conversa
Sarney - Olha, o homem está no exterior. Então a família
dele ficou de me dizer quando é que ele voltava. E não falei ontem porque não
me falou de novo. Não voltou. Tá com dona Magda. E eu falei com o secretário.
Machado - Eu vou tentar falar, que o meu irmão é muito
amigo da Magda, para saber se ele sabe quando é que ela volta. Se ele me dá uma
saída.
Machado - Presidente, então tem três saídas para a
presidente Dilma, a mais inteligente...
Sarney - Não tem nenhuma saída para ela.
Machado -...ela pedir licença.
Sarney - Nenhuma saída para ela. Eles não aceitam nem
parlamentarismo com ela.
Machado - Tem que ser muito rápido.
Sarney - E vai, está marchando para ser muito rápido.
Machado - Que as delações são as que vem, vem às pencas,
não é?
Sarney - Odebrecht vem com uma metralhadora de ponto 100.
Machado - Olha, acabei de sair da casa do nosso amigo.
Expliquei tudo a ele [Renan Calheiros], em todos os detalhes, ele acha que é
urgente, tem que marcar uma conversa entre o senhor, o Romero e ele. E pode ser
aqui... Só não pode ser na casa dele, porque entra muita gente. Onde o se nhor
acha melhor?
Sarney - Aqui.
Machado - É. O senhor diz a hora, que qualquer hora ele
está disponível, quando puder avisar o Romero, eu venho também. Ele [Renan]
ficou muito preocupado. O sr. viu o que o [blog do] Camarotti botou ontem?
Sarney - Não.
Machado - Alguém que vazou, provavelmente grande aliado
dele, diz que na reunião com o PSDB ele teria dito que está com medo de ser
preso, podia ser preso a qualquer momento.
Sarney - Ele?
Machado - Ele, Renan. E o Camarotti botou. Na semana
passada, não sei se o senhor viu, numa quinta ou sexta, um jornalista aí, que
tem certa repercussão na área política, colocou que o Renan tinha saído às
pressas daqui com medo dessa condição, delações, e que estavam sendo montadas
quatro operações da Polícia Federal, duas no Nordeste e duas aqui. E que o
Teori estava de plantão... Desculpe, presidente, não foi quinta não. Foi sábado
ou domingo. E que o Teori estava de plantão com toda sua equipe lá no
Ministério e que isso significaria uma operação... Isso foi uma... operação que
iria acontecer em dois Estados do Nordeste e dois no sul. Presidente, ou bota
um basta nisso... O Moro falando besteira, o outro falando isso. [inaudível]
'Renan, tu tem trinta dias que a bola está perto de você, está quase no seu
colo'. Vamos fazer uma estratégia de aproveitar porque acabou. A gente pode
tentar, como o Brasil sempre conseguiu, uma solução não sangrenta. Mas se
passar do tempo ela vai ser sangrenta. Porque o Lula, por mais fraco que
esteja, ele ainda tem... E um longo processo de impeachment é uma loucura. E
ela perdeu toda... [...] Como é que a presidente, numa crise desse tamanho, a
presidente está sem um ministro da Justiça? E não tem um plano B, uma
alternativa. Esse governo acabou, acabou, acabou. Agora, se a gente não agir...
Outra coisa que é importante para a gente, e eu tenho a informação, é que para
o PSDB a água bateu aqui também. Eles sabem que são a próxima bola da vez.
Sarney - Eles sabem que eles não vão se safar.
Machado - E não tinham essa consciência. Eles achavam que
iam botar tudo mundo de bandeja... Então é o momento dela para se tentar
conseguir uma solução a la Brasil, como a gente sempre conseguiu, das crises. E
o senhor é um mestre pra isso. Desses aí o senhor é o que tem a melhor cabeça.
Tem que construir uma solução. Michel tem que ir para um governo grande, de
salvação nacional, de integração e etc etc etc.
Sarney - Nem Michel eles queriam, eles querem, a
oposição. Aceitam o parlamentarismo. Nem Michel eles queriam. Depois de uma
conversa do Renan muito longa com eles, eles admitiram, diante de certas
condições.
Machado - Não tem outa alternativa. Eles vão ser os
próximos. Presidente: não há quem resista a Odebrecht.
Sarney - Mas para ver como é que o pessoal..
Machado - Tá todo mundo se cagando, presidente. Todo
mundo se cagando. Então ou a gente age rápido. O erro da presidente foi deixar
essa coisa andar. Essa coisa andou muito. Aí vai toda a classe política para o
saco. Não pode ter eleição agora.
Sarney - Mas não se movimente nada, de fazer, nada, para
não se lembrarem...
Machado - É, eu preciso ter uma garantia
Sarney - Não pensar com aquela coisa apress... O tempo é
a seu favor. Aquele negócio que você disse ontem é muito procedente. Não deixar
você voltar para lá [Curitiba]
Machado - Só isso que eu quero, não quero outra coisa.
Sarney - Agora, não fala isso.
Machado - Vou dizer pro senhor uma coisa. Esse cara, esse
Janot que é mau caráter, ele disse, está tentando seduzir meus advogados, de eu
falar. Ou se não falar, vai botar para baixo. Essa é a ameaça, presidente.
Então tem que encontrar uma... Esse cara é muito mau caráter. E a crise, o
tempo é a nosso favor.
Sarney - O tempo é a nosso favor.
Machado - Por causa da crise, se a gente souber
administrar. Nosso amigo, soube ontem, teve reunião com 50 pessoas, não é assim
que vai resolver crise política. Hoje, presidente, se estivéssemos só nos três
com ele, dizia as coisas a ele. Porque não é se reunindo 50 pessoas, chamar
ministros.. Porque a saída que tem, presidente, é essa que o senhor falou é
isso, só tem essa, parlamentarismo. Assegurando a ela e o Lula que não vão
ser... Ninguém vai fazer caça a nada. Fazer um grande acordo com o Supremo, etc,
e fazer, a bala de Caxias, para o país não explodir. E todo mundo fazer acordo
porque está todo mundo se fodendo, não sobra ninguém. Agora, isso tem que ser
feito rápido. Porque senão esse pessoal toma o poder... Essa cagada do
Ministério Público de São Paulo nos ajudou muito.
Sarney - Muito.
Machado - Muito, muito, muito. Porque bota mais gente,
que começa a entender... O [colunista da Folha] Janio de Freitas já está na
oposição, radicalmente, já está falando até em Operação Bandeirante. A coisa
começou... O Moro começou a levar umas porradas, não sei o quê. A gente tem que
aproveitar ess... Aquele negócio do crime do político [de inação]: nós temos 30
dias, presidente, para nós administrarmos. Depois de 30 dias, alguém vai
administrar, mas não será mais nós. O nosso amigo tem 30 dias. Ele tem sorte.
Com o medo do PSDB, acabou com el,e no colo dele, uma chance de poder ser ator
desse processo. E o senhor, presidente, o senhor tem que entrar com a
inteligência que não tem. E experiência que não tem. Como é que você faz
reunião com o Lula com 50 pessoas, como é que vai querer resolver crise, que
vaza tudo...
Sarney - Eu ontem disse a um deles que veio aqui: 'Eu
disse, Olhe, esqueçam qualquer solução convencional. Esqueçam!'.
Machado - Não existe, presidente.
Sarney - 'Esqueçam, esqueçam!'
Machado - Eu soube que o senhor teve uma conversa com o
Michel.
Sarney - Eu tive. Ele está consciente disso. Pelo menos
não é ele que...
Machado - Temos que fazer um governo, presidente, de
união nacional.
Sarney - Sim, tudo isso está na cabeça dele, tudo isso
ele já sabe, tudo isso ele já sabe. Agora, nós temos é que fazer o nosso
negócio e ver como é que está o teu advogado, até onde eles falando com ele em
delação premiada.
Machado - Não estão falando.
Sarney - Até falando isso para saber até onde ele vai,
onde é mentira e onde é valorização dele.
Machado - Não é valoriz... Essa história é verdadeira, e
não é o advogado querendo, e não é diretamente. É [a PGR] dizendo como uma
oportunidade, porque 'como não encontrou nada...' É nessa.
Sarney - Sim, mas nós temos é que conseguir isso. Sem
meter advogado no meio.
Machado - Não, advogado não pode participar disso, eu nem
quero conversa com advogado. Eu não quero advogado nesse momento, não quero
advogado nessa conversa.
Sarney - Sem meter advogado, sem meter advogado, sem
meter advogado.
Machado - De jeito nenhum. Advogado é perigoso.
Sarney - É, ele quer ganhar...
Machado - Ele quer ganhar e é perigoso. Presidente, não
são confiáveis, presidente, você tá doido? Eu acho que o senhor podia convidar,
marcar a hora que o senhor quer, e o senhor convidava o Renan e Romero e me diz
a hora que eu venho. Qual a hora que o senhor acha melhor para o senhor?
Sarney - Eu vou falar, já liguei para o Renan, ele estava
deitado.
Machado - Não, ele estava acordado, acabei de sair de lá
agora.
Sarney - Ele ligou para mim de lá, depois que tinha
acordado, e disse que ele vinha aqui. Disse que vinha aqui.
Machado - Ele disse para o senhor marcar a hora que
quiser. Então como faz, o senhor combina e me avisa?
Sarney - Eu combino e aviso.
[...]
Machado - O Moreira [Franco] está achando o quê?
Sarney - O Moreira também tá achando que está tudo
perdido, agora, não tem gente com densidade para... [inaudível]
Machado - Presidente, só tem o senhor, presidente. Que já
viveu muito. Que tem inteligência. Não pode ser mais oba-oba, não pode ser mais
conversa de bar. Tem que ser conversa de Estado-Maior. Estado-Maior analisando.
E não pode ser um [...] que não resolve. Você tem que criar o núcleo duro,
resolver no núcleo duro e depois ir espalhando e ter a soluç... Agora, foi nos
dada a chave, que é o medo da oposição.
Sarney - É, nós estamos... Duas coisas estão correndo
paralelo. Uma é essa que nos interessa. E outra é essa outra que nós não temos
a chave de dirigir. Essa outra é muito maior. Então eu quero ver se eu... Se
essa chave... A gente tendo...
Machado - Eu vou tentar saber, falar com meu irmão se ele
sabe quando é que ela volta.
Sarney - E veja com o advogado a situação. A situação
onde é que eles estão mexendo para baixar o processo.
Machado - Baixar o processo, são duas coisas [suspeitas]:
como essas duas coisas, Ricardo, que não tem nada a ver com Renan, e os 500,
que não tem nada a ver com o Renan, eles querem me apartar do Renan...
Sarney - Eles quem?
Machado - O Janot e a sua turma. E aí me botar pro Moro,
que tem pouco sentido ficar aqui. Com outro objetivo.
Sarney - Aí é mais difícil, porque se eles não
encontraram nada, nem no Renan nem no negócio, não há motivo para lhe mandar
para o Paraná.
Machado - Ele acha que essas duas coisas são motivo para
me investigar no Paraná. Esse é io argumento. Na verdade o que eles querem é
outra coisa, o pretexto é esse. Você pede ao [inaudível] para me ligar então?
Sarney - Peço. Na hora que o Renan marcar, eu peço... Vai
ser de noite.
Machado - Tá. E o Romero também está aguardando, se o
senhor achar conveniente.
Sarney - [sussurrando] Não acho conveniente.
Machado - Não? O senhor que dá o tom.
Sarney - Não acho conveniente. A gente não põe muita
gente.
Machado - O senhor é o meu guia.
Sarney - O Amaral Peixoto dizia isso: 'duas pessoas já é
reunião. Três é comício'.
Machado - [rindo]
Sarney - Então três pessoas já é comício.
[...]