A operação
Candeeiro, que desarticulou um esquema que desviou mais de R$ 30 milhões do
Idema também contou com participação de agentes políticos, afirmou Gutson
Reinaldo, apontado pelo Ministério Público do Rio Grande do Norte como líder das
fraudes. Ele também disse que já sabia da operação mesmo antes de ela ser
deflagrada, através de informações vazadas de dentro do MP. As declarações
foram dadas na manhã desta segunda-feira (22), em depoimento do réu, diante do
juiz Guilherme Newton Pinto, da 6ª Vara Criminal de Natal.
De acordo com
Gutson, ex-diretor administrativo do órgão, o deputado estadual Ricardo Motta o
manteve no cargo após o rompimento político entre a ex-governadora Rosalba
Ciarlini e o então vice-governador Robinson Faria. Ele havia sido indicado no
início da gestão por Robinson Faria. "Um dia o deputado Ricardo Motta me
chamou para conversar. Disse que precisava de R$ 8 a 10 milhões, porque tinha
contas de eleições anteriores", afirmou.
O réu ainda
explicou que na divisão dos recursos ele ficava com 20%, 60% era repassado ao
deputado e outros 20% eram divididos entre os outros servidores do Idema que
participavam da fraude e os donos das empresas que eram envolvidas no esquema.
Questionado
durante a audiência pelo seu advogado, Fabio Holanda, Gutson ainda afirmou que
as solicitações de recursos aumentaram no período das eleições de 2012. O
advogado perguntou se em algum período o uso do esquema foi ampliado. "Ele
(o deputado) alegava que precisava de recursos para cumprir compromissos
políticos, que ele não estava conseguindo mais em outos órgãos", disse.
Ele ainda aelgou que se sentia pressionado a enviar recursos, tendo inclusive
que tomar remédios para se alcamar.

O réu ainda
garantiu que desconhecia como funcionava o esquema de desvio. Ele apenas
assinaria os ofícios usados para liberar os recursos do banco para as empresas.
Essas empresas, que não tinham qualquer contrato com o Idema, devolviam o
dinheiro ao grupo, para ser rateado. Conforme o depoimento, os ex-chefe do
setor financeiro Clebson Bezerril (que assinou acordo de delação premiada), era
o responsável pela parte técnica do esquema, sendo o que melhor conhecia o
sistema de controle do estado. "Nunca entendi como era essa
engrenagem", apontou o réu.
Vazamentos
O réu ainda
disse que soube das duas operações (da que o prendeu e a Dama de Espadas, na
ALRN) através de um pai de santo que ele conheceu na casa da sua mãe, Rita das
Mercês Reinaldo. O homem identificado como Rafael Sobral Pinto virou sócio de
uma das empresas de Gutson após o envolvimento no esquema. Pouco antes da
operação, ele teria pedido ao diretor do Idema R$ 20 mil para pagar um
informante dentro do Ministério Público. Ainda de acordo com o réu, o pai de
santo teria fontes dentro do órgão de investigação e conseguido até subtraído
documentos de dentro do MP.
Gutson também
disse que Clebson foi informado do esquema através de um informante, de dentro
do MP, conhecido apenas como Tony, que teria o alertado a respeito das
operações Dama de Espadas e Candeeiro. Rita das Mercês foi presa 15 dias antes
do seu filho, suspeita de liderar um esquema de desvios na Assembleia
Legislativa do RN, onde era procuradora-geral, durante a operação Dama de
Espadas.
O juiz Guilherme
Newton Pinto, da 6ª Vara Criminal, não permitiu que os advogados e promotores
fizessem perguntas a respeito da possível participação do deputado e de
promotores, devido ao fato de eles terem foro privilegiado, o que torna a
primeira instância judicial impedida, por lei, de apurar tais informações.
Além de Gutson
Reinaldo, depuseram nesta segunda-feira (21) os réus Handerson Raniery Pereira,
Elmo Pereira da Silva Junior, Ramon Andrade Barcelar Felipe Sousa, Antônio
Tavares Neto e Euclides Paulino de Macedo Neto.
FONTE: NOVO JORNAL